Enxaqueca e Cannabis
- Dra. Fernanda Bettanin
- 23 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de out. de 2024
Redução da dor, frequência e intensidade

A aplicação de Cannabis medicinal para enxaqueca tem sido estudada como uma opção para alívio da dor e outros sintomas associados a essa condição. A enxaqueca é um tipo de cefaleia intensa, frequentemente debilitante, que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, especialmente as mulheres. O uso de Cannabis medicinal pode oferecer benefícios a quem sofre dessa condição devido aos seus componentes ativos, conhecidos como canabinoides. Nesse caso, dois canabinoides específicos vem sendo estudados para essa aplicação: o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol).
Os canabinoides interagem com o Sistema Endocanabinoide presente em nosso organismo, que desempenha um papel fundamental na regulação de diversos processos fisiológicos, incluindo a percepção da dor. O THC, por exemplo, pode agir como um analgésico e anti-inflamatório, enquanto o CBD pode ter efeitos neuroprotetores e ajudar a reduzir a frequência e a intensidade das enxaquecas.
O estudo "Uso dos Fitocanabinoides no Tratamento da Enxaqueca" de Morais, N. R. e Silva, C. H. C. [1] revisa as evidências sobre a eficácia dos canabinoides no tratamento da enxaqueca. O CBD, não psicoativo, possui propriedades anti-inflamatórias e, o THC, por outro lado, é psicoativo e atua principalmente no Sistema Nervoso Central, ajudando no controle da dor e no aumento do apetite, podendo ser utilizado, por exemplo, em pacientes de quimioterapia e AIDS.
O estudo apontou resultados promissores indicando que o uso de canabinoides pode reduzir, além da dor, também a frequência e a intensidade das crises de enxaqueca. No entanto, os efeitos podem variar conforme o paciente e a dosagem utilizada.
Os principais efeitos colaterais incluem alterações no apetite e sonolência. O THC pode causar efeitos psicoativos indesejados, como diminuição da atividade cognitiva e da movimentação, mas também ocorrem dependendo da dose e do paciente.
Um outro estudo, “High-frequency migraine refractory to usual pharmacological treatment and antibody and responsive to full-spectrum cannabidiol: a case report” de Rosa, L. M. M. e M. Siega, publicada na Headache Medicine em 2022 [2], relata um caso que envolve um paciente de 74 anos que sofria de enxaqueca de alta frequência (2 a 3 vezes por semana) por vários anos, com limitações funcionais significativas devido a múltiplos gatilhos. O tratamento com triptanos foi insuficiente, e o paciente teve intolerância a medicamentos profiláticos comuns, como topiramato e propranolol.
Ele tentou 2 aplicações de Erenumabe 70 mg, que inicialmente reduziram os ataques, mas a frequência das crises voltou a aumentar após a segunda aplicação, levando à interrupção do tratamento. Nutracêuticos foram testados por 6 meses, sem sucesso.
Após a introdução do óleo de CBD de espectro completo, os ataques de enxaqueca diminuíram em frequência (1 episódio/mês) e intensidade, com um intervalo recorde de 30 dias consecutivos sem dor e eliminação dos gatilhos.
Este estudo destaca um caso promissor em que o óleo de CBD proporcionou alívio significativo para um paciente com enxaqueca de alta frequência, resistente a tratamentos convencionais. A ciência continua a explorar o potencial terapêutico dos canabinoides para diversas condições médicas.
Apesar dos resultados positivos, os estudos existentes destacam a necessidade de mais ensaios clínicos para elucidar a eficácia e a segurança dos canabinoides a longo prazo. A pesquisa contínua é crucial para determinar as dosagens ideais e entender melhor os mecanismos de ação dos canabinoides no tratamento da enxaqueca.
Lembrando que a Cannabis medicinal pode ser administrada de várias formas, incluindo:
- Óleos e Tinturas: podem ser usados sob a língua para uma absorção mais rápida.
- Cápsulas e Comprimidos: oferecem uma dose precisa e efeito mais duradouro.
- Inalação (vaporizadores): permite um alívio rápido e ajustável, embora a eficácia possa variar.
- Aplicações tópicas: cremes ou pomadas que podem ser aplicados diretamente nas áreas afetadas.
A dosagem ideal pode variar significativamente entre os indivíduos. É importante começar com uma dose baixa e aumentar gradualmente, observando os efeitos. Consultar um médico especializado em Cannabis medicinal e fundamental para a ajustar a dose de acordo com as necessidades individuais.
Fontes:
[1] https://www.repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/prefix/16932/1/22003117.pdf
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